Luto

David Miranda: da infância difícil à luta pelos direitos LGBTQIA+

Ex-deputado nasceu na comunidade do Jacarezinho

Em dois anos de mandato como vereador, David teve mais de 15 projetos e proposições aprovadas
Em dois anos de mandato como vereador, David teve mais de 15 projetos e proposições aprovadas |  Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados
 

Político e ativista LGBTQIA+, David Michel dos Santos Miranda, mais conhecido como David Miranda, faleceu nesta terça-feira (9), após nove meses internado na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio. Nascido em 10 de maio de 1985 na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio, David correu atrás dos seus sonhos desde cedo.

Órfão de mãe aos cinco anos de idade e sem conhecer o pai, ele foi acolhido pela sua tia Eliane, que o estimulou a buscar nos livros uma saída para as dificuldades e a fugir dos caminhos da criminalidade.

O político começou a trabalhar ainda criança, com apenas nove anos, e passou por diversos empregos, como caixa de casa lotérica, office boy, entregador de panfleto, despachante e operador de telemarketing.

Em 2005, David conheceu Glenn Greenwald na praia de Ipanema, na altura da Farme de Amoedo, local bastante frequentado por grupos LGBTs. Poucos meses depois, casaram-se e mudaram-se para os Estados Unidos, onde David se formou em jornalismo e se especializou em estrategista de marketing.

David e Glenn Greenwald
David e Glenn Greenwald |  Foto: Redes Sociais
  

Lá, ele coordenou a campanha pelo asilo a Edward Snowden no Brasil e trabalhou ativamente junto ao seu marido Glenn Greenwald nas revelações dos programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela sua Agência de Segurança Nacional.

Durante sua atuação como vereador, David conheceu Marielle Franco, com quem firmou uma forte amizade.
  

De volta ao Brasil, David passou a se envolver na luta por direitos civis de gays e negros junto ao coletivo Juntos: a Casa da Juventude no Rio. Em 2014, filiou-se ao Psol e, no mesmo ano, engajou-se nas eleições e foi eleito como o primeiro vereador LGBT na história da Câmara do Rio, com 7.012 votos à época.

Durante sua atuação como vereador, David conheceu Marielle Franco, com quem firmou uma forte amizade. Ambos representantes LGBTQIA+, negros e vindos de favela, logo se identificaram com as mesmas lutas. A morte da amiga é definida por David como um dos piores dias da sua vida.

Em dois anos de mandato como vereador, David teve mais de 15 projetos e proposições aprovadas, entre as quais se destacam a que garante o direito ao uso do nome social nas instituições públicas por travestis, mulheres e homens transexuais.

Além do projeto que determina prioridade ao pagamento dos servidores da Prefeitura, impedindo o congelamento ou parcelamento da remuneração ou, ainda, que outra despesa municipal seja paga antes do trabalhador.

Em 2019, ocupou a vaga do deputado federal eleito Jean Wyllys, que não assumiu o mandato e deixou o país devido a ameaças de morte. No mesmo ano, Miranda foi eleito pela revista Time como um dos dez líderes da próxima geração.

Na Câmara Federal, David apresentou seu primeiro projeto de lei, que determina medidas protetivas para o público LGBTQIA+, relacionadas à Lei Maria da Penha, com mecanismos para proteger pessoas em situação de violência. 

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